Noticia ao Minuto
"Não vejo como Tasso Jereissati (PSDB-CE) permanecer na
presidência do partido e nós ficarmos no governo. Ou ele se afasta, o
que seria um gesto de grandeza de quem percebeu que está em conflito com
a visão majoritária, ou podemos caminhar para uma implosão." O
diagnóstico é do deputado federal Marcus Pestana (MG), fundador do PSDB
e, agora, espécie de porta-voz informal da ala da sigla que defende o
apoio ao presidente Michel Temer.
Aliado de Aécio Neves (PSDB-MG),
Pestana diz que erra quem encara a divisão do PSDB como uma disputa
entre o senador mineiro e o cearense. "A divergência é real e natural em
qualquer partido, mas tem que haver unidade de ação. E isso é
conquistado com habilidade, respeito ao divergente. O Tasso é uma pessoa
querida e admirada, mas ninguém esperava que nessa presidência interina
ele fosse agir contra a posição majoritária", diz.
Pestana
afirma que o presidente interino da legenda tem imposto aos quatro
nomes do PSDB que ocupam ministérios no governo uma situação
constrangedora. Ele afirma ainda que o cearense desrespeita
entendimentos firmados em várias instâncias e avisa que, se Tasso
permanecer no comando da legenda, há o risco de uma debandada.Leia
abaixo os principais trechos da conversa.
Divisão
"O fato é
que agora se cristalizaram dois lados. Ficou insustentável. Sou
fundador e estou no PSDB desde 1988. Este é sem dúvida o momento mais
grave, com riscos reais de uma implosão. Se o futuro nos une, o presente
nos divide.
Houve uma divisão profunda em torno da participação
no governo pós-impeachment e em relação à própria denúncia da PGR contra
o presidente Temer. A divergência é real e natural em qualquer partido,
mas tem que ter unidade de ação. O Tasso é uma pessoa querida e
admirada, mas ninguém esperava que nessa presidência interina ele fosse
agir como porta-voz de uma corrente contra a posição majoritária.
Sucessivas vezes ele usou a presidência interina para confrontar o
posicionamento da maioria. O papel dele deveria ser o de um algodão
entre cristais. Dialogar com todos e respeitar as decisões, mas não foi
isso o que ele fez."
Ala fisiológica
"Isso é um absurdo.
O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que chegou anteontem ao partido
não conhece bem a história pessoal e coletiva dos quadros do PSDB, vem
dizer que somos governistas? Veja se Aloysio [Nunes, ministro das
Relações Exteriores], Bruno [Araújo, ministro das Cidades] e Imbassahy
[secretário de Governo] são apegados a cargos? Eu tenho uma história
como tantos outros. Tasso apostou numa perspectiva que é divisionista,
não na construção mirando o futuro.
Nesse cenário, ou ele abre mão
da presidência e aí prevalece a visão da maioria ou teremos uma
implosão. Até para ele ter liberdade de defender suas ideias e
convicções, poderia passar o comando do partido para outro
vice-presidente que colasse os cacos, que produzisse um processo de
construção de consensos. Não vejo como o Tasso ficar e nós ficarmos no
governo. Ou ele se afasta - e seria um gesto de grandeza dele,
percebendo que ele está em conflito com a visão majoritária- ou se ele
ficar podemos caminhar para uma implosão partidária. Ele tensionou
demais.
O nosso líder [Ricardo Trípoli] passou semanas vendendo
para a imprensa que seriam 30 votos a favor da denúncia. Eles perderam
por 22 a 21. Chamaram reunião da executiva ampliada. Decidiu-se pela
aposta na estabilidade, de olho na aprovação das reformas, das medidas
que o país precisa para superar a crise. Esse foi o entendimento da
maioria. A unidade tem que ser construída. Ela não é feita com a
imposição de uma visão de um presidente, por decreto."
Proteger o Aécio
"Essa
versão é mais uma caricatura que ofende a posição majoritária e é esse
desrespeito que está nos levando a esse impasse. Passar para as pessoas
que nós, com a nossa história, somos fisiológicos, apegados ao poder...
Eu era líder do governo em Juiz de Fora e renunciei para fundar o PSDB.
Não tenho apego ao poder.
Não é um confronto entre Tasso e Aécio,
que, aliás, tem sido correto com o Tasso. Eles acertaram essa
presidência de transição, deveria ser um momento de baixar a poeira e
construir uma unidade real, não retórica."
Debandada
"Nunca
houve esse clima no PSDB. Em 29 anos. Eu torço e vou trabalhar para que
não haja debandada, mas realmente a ala majoritária tem sido muito mais
discreta. O problema é que os porta-vozes que têm vindo à público têm
propugnado posições que não refletem a maioria.
Vou trabalhar pela
unidade. Tenho um vínculo afetivo e estou extremamente constrangido e
triste com a nossa situação. Mas não pode a direção do partido
hostilizar ministros, a posição majoritária das bancadas. Não será o
senador Ferraço, um neotucano, que vai me dizer como defender a
história, a memória, a coerência do PSDB.
A ameaça de fratura é
real, para um lado e para o outro. Tenho 29 anos de partido, mas o
partido é ferramenta, não é fim em si mesmo. Se não serve mais para o
que se acredita, não se tem que ter apego, como se ele fosse uma
instituição imune.Espero que Aloysio, Marconi, Alckmin, Serra, Paulo
Bauer e Trípoli sejam iluminados e dialoguem."
FHC
"O
presidente Fernando Henrique está em outra esfera. Ele tem tido uma
postura de conselheiro da República, colocando sua bagagem a serviço do
país, mas em um outro plano.
Temos que buscar as coisas que nos
unem. A figura de FHC nos une. Acredito que se houver um debate ele vai
enxergar várias incongruências e equívocos nessa estratégia de
comunicação [o programa nacional da TV, que criticou o 'presidencialismo
de cooptação'].
Para não ser igual a eles, quero deixar claro que
respeito o diagnóstico e as formulações dessa corrente [que defende a
ruptura com Temer]. É legítima a divergência. Dela se faz discussão,
debate, formação de maioria e deliberação. A partir daí, todo mundo
caminha unido. O partido não pode ser usado para constranger e
depreciar.
A divergência, quando tratada de maneira irresponsável,
ela imobiliza. Em vez de discutir reformas, retomada do crescimento,
gastamos nossa preciosa e qualificada energia num embate interno cheio
de irracionalidade e com potencial explosivo." Com informações da
Folhapress.
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