No dia 3 de maio, enquanto enchia uma sacola de dinheiro, o
diretor de relações institucionais da J&F, Ricardo Saud, teve uma
longa conversa com o empresário Frederico Pacheco, primo do senador
Aécio Neves (PSDB-MG). O dinheiro era uma das quatro parcelas de 500 mil
reais cada que a J&F enviou para Aécio, por intermédio de
Frederico. Boa parte da conversa girou em torno da decisão da 2ª Turma
do Supremo, que um dia antes revogou a ordem de prisão do juiz Sérgio
Moro e soltou o ex-ministro José Dirceu. Votaram a favor de Dirceu os
ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandovski. Os
ministros Edson Fachin e Celso de Mello votaram contra.
No
início da conversa, Saud se mostra surpreso com o fato de o Supremo
soltar Dirceu. “Ninguém vai fazer delação mais”, diz Frederico. “O
Palocci vai, porque ele vai entregar o Lula”, diz Saud. Em seguida, o
executivo da J&F comemora a decisão do Supremo: “Acho que o Gilmar
agora começou a ajudar a gente”, diz Saud. Ele afirma que logo após a
decisão ligou para o empresário Joesley Batista em Nova York para
comunicar a novidade. Saud diz que interpretou a votação como um recado,
que o Supremo iria soltar também Palocci, por supostamente evitar que o
ex-ministro da Fazenda comprometesse os ministros da Corte numa
possível delação.
“O Palocci não ia fazer delação?”, diz Saud.
“Você acha que ele não ia entregar o Judiciário não? Quantos caras
daquele que tá ali que o Palocci ajudou? Ele, José Eduardo, acolá? O que
eles fizeram? Correram, soltaram o Zé Dirceu… Falou: ‘Fala nada para
ninguém não que nós vamos soltar vocês’. Ficou bom, ué. Ficou bom, mas
bom mesmo”, diz Saud. O executivo diz a Fred que, assim que recebeu a
notícia da soltura de Dirceu, também conversou com o ex-ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo.
“Eu tive lá ontem, para não ficar
ninguém preso. Ontem eu estive um tempão com o Zé Eduardo. ‘Zé?’. ‘Oi,
Carlinho. Calma, fica tranquilo, não vai, está na hora de…’”. Saud diz
acreditar que a decisão do Supremo seja resultado de uma conversa entre o
presidente Michel Temer com os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique.
Frederico previa que o Supremo também soltaria Palocci e acabaria com a
Lava-Jato: “Aí ninguém oferece denúncia contra os que estão
investigados, os inquéritos morrem tudo (…) Quem já tinha que comer
cadeia já comeu”. Ouça o áudio:
Em
outro trecho da conversa, Saud volta a elogiar a Corte: “Essa atitude
do Supremo ontem foi boa demais”. Frederico diz que o ministro Gilmar
estava pensando mais em si mesmo quando voltou por soltar Dirceu. “Ele
está com medo demais é da OAS, né?”, concorda Saud. Fred diz: “O
Lewandowski, esses caras todos… não ‘guentam’ a delação não”. Ambos
também criticam o ministro Dias Toffolli. “Esse parece que é cabeça
pequenininha”, diz Saud. Ouça o áudio:
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