O presidente Emmanuel Macron afirmou nesta sexta-feira, 23, que Jair Bolsonaro
“mentiu” sobre seus compromissos com o meio ambiente e anunciou que,
sob essas condições, a França se opõe ao tratado de livre-comércio
UE-Mercosul.
“Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República
só pode constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula
(do G20) de Osaka”, declarou o Palácio do Eliseu, estimando que “o
presidente Bolsonaro decidiu não respeitar seus compromissos climáticos
nem se comprometer com a biodiversidade”.
“Nestas circunstâncias, a França se opõe ao acordo do Mercosul“, acrescentou a Presidência francesa.
A pressão internacional sobre o Brasil aumentou após a divulgação de informações sobre o aumento das queimadas na Amazônia.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as
queimadas tiveram um acréscimo de 82% de janeiro a agosto de 2019 ante o
mesmo período do ano passado. Esta é a maior alta no índice em sete
anos.
Segundo especialistas, a alta de incêndios está relacionada
ao desmatamento promovido para a criação de pastagens e lavouras, uma
vez que neste ano não houve um período de seca tão intenso como nos anos
anteriores.
Ontem, Macron já havia se manifestado sobre a questão, e pediu que os
incêndios fossem discutidos na reunião de cúpula do G7, que será
realizada neste final de semana em Biarritz, na França. A posição do
francês foi apoiado por outros líderes europeus e pelo primeiro-ministro
do Canadá, Justin Trudeau.
O premiê da Reino Unido, Boris Johnson,
afirmou por meio de um porta-voz nesta sexta que está profundamente
preocupado com os incêndios e com “o impacto da trágica perda desses
preciosos habitats”. O conservador vinha sendo acusado pela oposição
trabalhista do seu país de apoiar as atitudes do presidente Jair
Bolsonaro sobre o meio ambiente ao não se manifestar sobre o assunto.
Já a chanceler Angela Merkel afirmou que o tema constitui uma “situação urgente”, que precisa ser debatida.
O
presidente brasileiro acusou Macron de querer “instrumentalizar” o
assunto “para ganhos políticos pessoais”. “A sugestão do presidente
francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a
participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista
descabida no século XXI”, escreveu no Twitter.
Na
quarta-feira 21, Bolsonaro chegou a insinuar que os incêndios na
Amazônia têm sido provocados por ONGs com o intuito de prejudicá-lo.
Oposição ao acordo UE-Mercosul
Além da França, a Irlanda também se manifestou contra o acordo de livre-comércio fechado entre o Mercosul e a União Europeia em junho deste ano.
“De
maneira alguma a Irlanda votará a favor do acordo de livre comércio
UE-Mercosul se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais”,
declarou o primeiro-ministro Leo Varadkar em um comunicado divulgado na
quinta-feira à noite.
Varadkar se disse “muito preocupado porque
neste ano houve níveis recordes de destruição por incêndios na floresta
amazônica”, e considerou que “os esforços do presidente Bolsonaro para
culpar ONGs ambientalistas pelos incêndios são orwellianos”.
Após
20 anos de negociações, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram
recentemente com a UE um Acordo de Associação que inclui seções de
diálogo político e comercial.
Os países do bloco europeu ainda
devem dar seu aval ao texto para permitir sua entrada em vigor, que deve
ter a aprovação da Eurocâmara, um procedimento que pode levar dois
anos.
“Ao longo dos dois anos, vamos monitorar de perto as ações ambientais do Brasil”, advertiu Varadkar.
A
França havia condicionado sua validação do acordo ao respeito do Brasil
a certos compromissos ambientais que haviam sido discutidos durante a
cúpula em Osaka (Japão), do G20, grupo do qual o Brasil é membro.
O pacto também tem sido amplamente criticado, particularmente pelo setor agrícola e por ambientalistas.
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