As queimadas recordes na região amazônica
vêm despertando forte preocupação dos governos europeus e da comunidade
científica, com ampla divulgação negativa sobre o governo Jair Bolsonaro. Nesta quinta-feira, 22, o presidente francês, Emmanuel Macron, falou em “crise internacional”
a ser discutida pelo G-7, o grupo das nações mais ricas. Bolsonaro
rebateu, dizendo que a sugestão “evoca mentalidade descabida no século
21” e ressaltou que o governo já está tratando do “crime” que ocorre na
área.
O
encontro da cúpula do G7 começa amanhã em Biarritz, sudoeste da França.
Macron cobrou a pauta ecológica publicamente. “Nossa casa está
queimando. Literalmente. A Amazônia - os pulmões que produzem 20% do
oxigênio do planeta - está em chamas. Membros da cúpula do G7, vamos
discutir esta questão de primeira ordem!”, escreveu no Twitter.
Our house is burning. Literally. The Amazon rain forest - the lungs which produces 20% of our planet’s oxygen - is on fire. It is an international crisis. Members of the G7 Summit, let's discuss this emergency first order in two days! #ActForTheAmazon
Integrante do parlamento europeu, o político belga Guy Verhofstadt
também se manifestou sobre a necessidade de levar o assunto à mesa.
“Os incêndios na Floresta Amazônica são nossa preocupação. Esta questão deve ser discutida pelos líderes do G-7 neste fim de semana e uma ação internacional precisa ser tomada”, afirmou.
“Os incêndios na Floresta Amazônica são nossa preocupação. Esta questão deve ser discutida pelos líderes do G-7 neste fim de semana e uma ação internacional precisa ser tomada”, afirmou.
Em julho, foi assinado um acordo histórico entre Mercosul e a União Europeia.
Para ser implementado, contudo, os termos ainda precisam ser
regulamentados pelos Parlamentos. Agora organizações não governamentais
como o Greenpeace estão se mobilizando no continente europeu para
pressionar seus parlamentares a não aprovarem os termos - já foram
enviadas cartas a parlamentares da Áustria e da Alemanha.
Também a Organização das Nações Unidas (ONU)
se manifestou. “No meio da crise climática global, não podemos permitir
mais danos a uma fonte importante de oxigênio e biodiversidade”, disse o
secretário-geral, António Guterres. A presidente da Assembleia-Geral,
María Fernanda Espinosa, cobrou “ação urgente” e a Organização
Meteorológica Mundial defendeu o uso de satélites para monitorar a
situação.
'Mentalidade colonialista', diz Bolsonaro sobre intervenção de Macron
Nas
redes sociais, Bolsonaro rebateu Macron, destacando que “o governo
brasileiro segue aberto ao diálogo, com base em dados objetivos e no
respeito mútuo”. “A sugestão do presidente francês, de que assuntos
amazônicos sejam discutidos no G-7 sem a participação dos países da
região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21.
- O Governo brasileiro segue aberto ao diálogo, com base em dados objetivos e no respeito mútuo. A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI.
Mais tarde, em sua transmissão ao vivo na internet, pediu que
denúncias de incêndio criminoso na região sejam dirigidas ao perfil no
Twitter do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno.
“Se tiver suspeita ou certeza que há pessoas identificadas que estão
tocando fogo de forma criminosa, botem aqui.” E voltou a atacar. “ONGs
não trabalham para o bem do Brasil, mas para quem paga”, declarou.
“Esses países não mandam dinheiro por caridade. Espero que dê para
entender isso daí. Mandam com interesse. Para atingir a nossa
soberania”. O presidente disse que é preciso “equilibrar narrativas”
sobre a Amazônia. Afirmou ainda que há “inimigos aqui dentro.”
Já
o vice-presidente, Hamilton Mourão, falou em “má-fé” de quem vê uma
crise na região. “Lá (na Amazônia) morei e sei que incêndios são
episódicos em período de seca.”
A #Amazonia brasileira está segura! Lá morei e sei que incêndios são episódicos em período de seca. Transformá-los em crise, esquecendo as tragédias que o fogo causou nos EUA e Europa, é má-fé de quem não sabe que os pulmões do mundo são os oceanos, não a Amazônia.
Cientistas estrangeiros endurecem cobranças
Signatários
de uma carta divulgada há quatro meses, pedindo que a União Europeia
imponha sanções comerciais ao Brasil em caso de descumprimento de
compromissos ambientais, cientistas estrangeiros endurecem as cobranças.
“No Parlamento Europeu, há um movimento muito claro de exigir
salvaguardas ambientais”, disse ao Estado o cientista Tiago Reis,
pesquisador das relações entre commodities globais e uso do solo da
Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. “Vejo sinais claros de
embargo econômico.”
Divulgada em abril, a carta contou com a
assinatura de 602 cientistas de todos os 28 países membros da União
Europeia. O documento pedia que o bloco condicionasse a compra de
produtos brasileiros a determinados compromissos ambientais. Já a
Comissão Europeia estuda há pelo menos quatro anos como suas relações
comerciais afetam o clima mundial. A conclusão principal é de que
adquirir produtos de um país que promova o desmatamento seria como
“exportar desmatamento”.
Mercado ecoa preocupação
Especialista
em alimentação, o pesquisador Mikael Linder, da Universidade Livre de
Bolzano, na Itália, também ecoa essa preocupação. “É a imagem do Brasil.
Nota-se uma associação dos produtos brasileiros à imagem da degradação
ambiental”, avalia. Segundo ele, pesquisas preliminares apontam que, nos
últimos meses, houve uma redução de alimentos de origem brasileira nas
gôndolas dos mercados.
“Um modo para pressionar por mudanças no
modo como o Brasil trata o meio ambiente poderá ser por meio de embargo a
produtos nacionais”, diz ele.” Esse risco existe e pode se concretizar.
É preciso que o governo federal entenda urgentemente que a preservação
não é simples questão doméstica. Faz parte da agenda internacional.
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