Depois de negarem um recurso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra
uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), nesta terça-feira,
25, os ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF
A análise do mérito da ação sobre a parcialidade de Moro ficou para
agosto, porque Gilmar manteve seu pedido de vista nesta terça. Esta foi a
última sessão do colegiado antes do recesso do Judiciário.
Primeiro a votar sobre a liminar, Gilmar Mendes se posicionou por
conceder a medida. “Considerando que o habeas corpus aqui em debate
apresenta questão de fundamental relevância, há fumus boni iuris e periculum in mora para ensejar a liberdade do paciente até o julgamento desse habeas corpus”, sustentou o ministro.
Ao
informar que não “devolveria” o processo para julgamento na Segunda
Turma na sessão de hoje, Gilmar Mendes disse que o “congestionamento” da
pauta do colegiado com outros onze processos podia “comprometer” a
análise da suspeição de Moro. “Não há como negar que as matérias possuem
relação com fatos públicos e notórios cujos desdobramentos ainda estão
sendo verificados”, declarou o ministro, referindo-se às reportagens do
site The Intercept Brasil que publicaram mensagens vazadas com
colaborações entre Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, da
força-tarefa da Lava Jato no Paraná.
Ao citar como “fatos públicos e notórios” os diálogos revelados,
Gilmar usou a lógica de que, como tais, não importa se as mensagens não
tenham a veracidade confirmada. Conforme um dos incisos do Artigo 374 do
Código de Processo Civil, “não dependem de prova os fatos notórios”.
O
ministro ainda citou o parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR)
sobre a suspeição de Moro e disse que a procuradora-geral, Raquel
Dodge, indicou que tem dúvidas sobre a imparcialidade de Moro no
processo do tríplex do Guarujá.
“Mesmo o parquet não descarta a
possibilidade de complementação de seu parecer ante a superveniência de
novas informações que podem influenciar no deslinde da controvérsia em
exame. Tais circunstâncias corroboram a necessidade de adiamento da
devolução do pedido de vista. Já a manifestação da PGR justificaria
porque ela, no mínimo, diz ‘estou em dúvida em relação a isenção do juiz
nesse processo’”.
Em seguida, votou o ministro Edson Fachin, que
discordou da tese de Gilmar Mendes sobre as reportagens como “fato
público e notório” e negou a liminar. Fachin entende que a veracidade
das mensagens tem de ser analisada por outras instâncias da Justiça
antes de o STF se pronunciar.
O próximo a se pronunciar, Ricardo
Lewandowski, concordou com a soltura de Lula até o julgamento do mérito
da suspeição. Ele afirmou que “os autos trazem elementos suficientes no
sentido de plausibilidade, do fumus boni iuris e do periculum in mora porque o paciente está preso há mais de 400 dias”.
Considerado
o voto de desempate na Segunda Turma em questões envolvendo a Operação
Lava Jato, Celso de Mello negou soltar Lula. Ele ressaltou, contudo, que
esta não é a antecipação de seu voto em relação à parcialidade ou não
de Sergio Moro no caso envolvendo o petista.
Ao iniciar sua
explanação, Mello lembrou que o colegiado já julgou uma suspeição de
Moro, no caso Banestado, em 2013, quando ele votou por anular o
processo, mas ficou vencido. Naquela ocasião, a Segunda Turma considerou
que o afastamento do juiz só pode ocorrer quando há “certeza absoluta” e
“prova induvidosa” de sua parcialidade.
Na época, a Turma
criticou os métodos de Moro, mas não o declarou suspeito. Entre outras
medidas, ele havia mandado monitorar os voos de advogados de um doleiro.
Última a votar, a presidente da Segunda Turma, Cármen Lúcia, desempatou a votação e manteve Lula preso em Curitiba.
Mensagens vazadas pressionam Moro
O
julgamento sobre a suspeição de Sergio Moro foi iniciado em dezembro de
2018 na Segunda Turma, quando acabou sendo interrompido pelo pedido de
vista de Gilmar Mendes. Àquela altura, já haviam votado Edson Fachin e
Cármen Lúcia, ambos contrários ao habeas corpus – ambos podem alterar
suas posições na retomada da análise do caso. Críticos de aspectos da
Lava Jato e integrantes da ala “garantista” do STF, Gilmar e Lewandowski
devem votar a favor de Lula. Se essas posições se confirmarem, o voto
de desempate será de Mello, decano da Corte.
A análise da
parcialidade ou não de Sergio Moro pelo Supremo ganhou relevância e
polêmica depois da revelação, pelo site The Intercept Brasil, de
mensagens trocadas entre o ex-juiz e o procurador da República Deltan
Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná. Em uma
petição ao STF, a defesa de Lula cita os diálogos e pede que eles sejam
levados em consideração no julgamento.
Nas mensagens, trocadas
pelo aplicativo Telegram entre 2015 e 2018, Moro aparece cooperando com
Deltan: ele orienta uma investigação da força-tarefa da operação sobre
Lula, por meio da indicação de um possível informante, cobra a
deflagração de novas ações, antecipa decisões e manifesta temor quanto a
“melindrar” o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um “apoio
importante” à Lava Jato, com investigações que, a seu ver, baseavam-se
em indícios “muito fracos”.
Até agosto, quando o recesso do
Judiciário terminará e o julgamento sobre a parcialidade de Moro será
retomado, é possível que a pressão sobre Sergio Moro tenha crescido, com
a divulgação de novos diálogos com Deltan Dallagnol.
Sergio Moro
atribui o vazamento das informações à atuação de hackers. O The
Intercept Brasil afirma que recebeu o material de uma fonte anônima. A
Polícia Federal investiga a forma como o conteúdo foi obtido.
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