O jornalista e editor do site The Intercept Brasil Glenn Greenwald acusou nesta quinta-feira o ministro Sergio Moro
(Justiça) de querer criar um “clima de ameaça” a ele e à “imprensa
livre” ao não confirmar nem desmentir o rumor de que a Polícia Federal o
estaria investigando. “O clima que o ministro da Justiça está tentando
criar é de ameaça à imprensa livre. Ele está tentando fazer isso de
propósito, para assustar a gente, para evitar que a gente faça
jornalismo”, disse o editor em audiência no Senado.
Greenwald tem coordenado a publicação de uma série de mensagens
atribuídas ao chefe da força-tarefa da Lava Jato, procurador Deltan
Dallagnol, e ao ex-juiz Sergio Moro. Em reportagem da última edição de VEJA,
feita em parceria com o The Intercept Brasil, foram revelados diálogos
inéditos que mostram que o atual ministro comportou-se como chefe do
Ministério Público Federal ao pedir a inclusão de provas em processos
que ele julgaria depois e ao mandar acelerar ou retardar operações da
Lava Jato.
Greenwald iniciou a sua fala lembrando do caso de
Edward Snowden, ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos EUA
(NSA) no qual revelou informações do serviço secreto dos governos
americano e britânico em 2014. Segundo ele, as autoridades ficaram
“indignadas” com as reportagens que se baseavam em “material roubado” e
vazado por Snowden, mas nem por isso elas cogitaram investigá-lo pelas
revelações.
“É impensável numa democracia prender ou investigar jornalista. Eu li
a Constituição Brasileira muitas vezes e sei que ela protege o que
estamos fazendo. E eu acredito muito nas instituições brasileiras,
principalmente no judiciário e no STF”, acrescentou.
A audiência é
realizada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e foi feita a
convite do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é líder da
oposição na Casa. Enquanto a sessão está cheia de parlamentares
contrários ao governo, poucos senadores governistas compareceram. Um
deles, o senador Marcos do Val (Cidadania-ES), perguntou a Glenn por que
ele não entregava as conversas do Telegram às autoridades para que
pudessem verificar a sua veracidade, uma vez que Moro e Dallagnol
passaram a dizer que não reconhecem a sua autenticidade.
Greenwald
respondeu que não o fez nem fará porque essa prática é “típica” de
tiranias e ditaduras. “Por favor, me dê um exemplo do mundo democrático
em que um jornal ou uma revista entrega o seu material para a polícia ou
a justiça antes de publicar”, interpelou ele.
O jornalista também
fez questão de pontuar que não recebe financiamento de nenhum partido
político e criticou a ausência dos senadores do PSL, que o estariam
atacando nas redes sociais com fake news, segundo ele. “Eles não têm
coragem de chegar na minha cara para dizer essas coisas falsas. Eu estou
negando esses posts, porque são falsos, diferente do que Moro e
Dallagnol fizeram. Nós assinamos todas as matérias com os nossos nomes. É
muito diferente do que o partido do governo está fazendo, sempre se
escondendo nas sombras”.
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