O Bispo Emérito de
Petrolina, Frei Paulo Cardoso, em carta aberta ao clero diocesano,
contesta projeto que pode transformar a sede do Palácio Episcopal,
construído por Dom Malan e tombado pelo município, em mercado popular,
nos moldes do Mercado do Turista, já existente em Petrolina.
Acompanhando o sentimento de alguns Petrolinenses que se posicionaram
contrário a ideia, Frei Paulo escreveu a carta aos padres da diocese,
pedindo que revejam a ideia para não autorizar o inicio do projeto. A
expectativa é grande no meio diocesano, principalmente no momento em que
a Diocese acaba de aposentar o seu Bispo, Dom Manoel, que deve se
afastar nesses próximos dias, depois que recebeu autorização da Santa
Sé, para se aposentar. Acompanhe a carta e dê a sua opinião.
Ao clero da Diocese de Petrolina.
Caros irmãos no Sacerdócio ministerial.
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Profundamente amargurado e entristecido, tomei conhecimento de que se pretende levar adiante o projeto de construção de um “shopping popular”, nas adjacências do Palácio Diocesano. As imagens do projeto continuam a circular abundantemente na internet. Já se anuncia o início imediato das vendas dos “boxes”. As frondosas árvores do “quintal” do Palácio já foram destruídas.
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Inicialmente, cheguei a pensar na conveniência de publicar uma “Carta Aberta” ao Clero, às autoridades constituídas e à sociedade petrolinense, sobretudo a população católica. Mas depois achei mais conveniente dirigir-me primeiro ao Clero.
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Todos sabem de minha posição, radicalmente contrária, desde que, há dois anos ou mais, começaram a circular notícias a respeito. Senti-me no direito e na obrigação de externar minha opinião ao então Bispo diocesano, ao próprio clero e ao Colégio dos Consultores.
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As razões por mim apresentadas são já conhecidas. Entre outras, relembraria:
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O alto significado histórico e afetivo do Palácio para a Diocese e para toda a sociedade petrolinense. O Palácio e a Catedral, sonhos realizados pelo grande Dom Antônio Malan, constituem como que uma única coisa.
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Se, para atender às necessidades da Diocese, o plano era construir algo, dispúnhamos e dispomos de duas áreas excelentes e livres, muito bem localizadas: a área adjacente e contígua ao “Palacinho”, e a ampla área de terreno do Pio XI, que dá para a Av. Guararapes.
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O atual projeto que se está levando a cabo, não recebeu a aprovação da Secretaria de Obras, por razões técnicas e evidentes. Chegou-se mesmo a denominar de “camelódromo” o que se estava propondo construir.
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Cheguei a encaminhar Ofício ao Prefeito anterior, solicitando a não-aprovação do projeto.
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Repito que, se o Palácio é propriedade da Diocese, constitui também um patrimônio da comunidade, assim como a Catedral.
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O Palácio, figura na Lei Orgânica do Município, como primeiro dos edifícios a serem tombados pelo Poder executivo. Projeto de tal importância, a meu ver, deveria ter passado pela Câmara de Vereadores, e também pelo crivo da própria comunidade, do clero, e recebido aprovação do Colégio de Consultores, para sua validade e legitimidade.
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A atual crise pela qual passa o país, sem perspectiva de melhora, tem ocasionando o fechamento de tantas lojas e casas comerciais no centro da cidade. É sensato pensar na construção dos boxes projetados?
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O que virá a significar tal projeto, em termos de irreparável agressão ao próprio Palácio – construído em área doada, quando da criação da Diocese, para o fim muito claro e específico de residência do Bispo? É bom ressaltar que o atual projeto tornará inviável a residência ali de um futuro bispo.
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Entre outras, são estas as razões que sempre me levaram a opor-me radicalmente a tal projeto. Achei que, mesmo sendo emérito, não podia me omitir. Assim como acho que o primeiro a não poder omitir-se seria o próprio clero! A história haverá de nos cobrar.
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