Oficialmente afastado de suas funções à frente do Ministério da Justiça até sexta-feira (19), o ministro Sergio Moro voltou a atacar a revelação de diálogos que colocam em xeque sua atuação como juiz da operação Lava Jato. Em mensagem publicada em sua conta no Twitter, o ex-juiz federal definiu as publicações como “campanha” contra a operação.
“Sou grande defensor da liberdade de imprensa, mas essa campanha
contra a Lava Jato e a favor da corrupção está beirando o ridículo.
Continuem, mas convém um pouco de reflexão para não se desmoralizarem.
Se houver algo sério e autêntico, publiquem por gentileza”, ironizou na
rede social.
O ex-juiz não especifica a qual conteúdo ele se refere, mas sua
manifestação se dá após a revelação de que o procurador Deltan Dallagnol
pediu dinheiro sob a guarda da 13ª Vara Federal de Curitiba, então
chefiada por Moro, para custear uma campanha publicitária em apoio ao
projeto conhecido como Dez Medidas contra a Corrupção.
Segundo o procurador, a campanha custaria 38.000 reais. “Se for só uns 38.000 acho que é possível. Deixe ver na terça e te respondo”, disse o então juiz na conversa divulgada pelo jornalista Reinaldo Azevedo nos portais UOL e Band News, em parceria com o site The Intercept Brasil. De
acordo com as mensagens, não é possível afirmar que o dinheiro da 13ª
Vara foi, de fato, utilizado para custear a campanha publicitária. A
força-tarefa da Lava Jato, em nota oficial, negou.
Novos diálogos também mostram que Dallagnol procurou Moro para tentar
convencê-lo a aceitar um convite para uma palestra promovida pela
Federação das Indústrias do Ceará. “Eu pedi pra pagarem passagens pra
mim e família e estadia no Beach Park. As crianças adoraram”, disse.
“Além disso, eles pagaram um valor significativo, perto de uns 30k [R$
30 mil]. Fica para você avaliar”, escreveu o procurador.
Reportagem de VEJA
em parceria com o The Intercept Brasil mostrou que Moro orientava
ilegalmente ações da Lava Jato: fora dos autos, ele pediu à acusação que
incluísse provas aos processos que chegariam depois às suas mãos,
mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que
determinadas delações não andassem. Além disso, revelam os diálogos,
comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição
incompatível com a neutralidade exigida de um juiz.
O tweet
desta terça-feira não é a primeira vez que Moro ataca a divulgação das
mensagens entre ele e o procurador. Em sua defesa, o ministro tem
repetido que as mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil a
partir de uma fonte anônima são fruto de um ataque de um hacker e que
não vê irregularidades no conteúdo dos diálogos.
Ao reagir à
reportagem de VEJA, também pelo Twitter, Moro publicou uma mensagem
criticando a revista. “Que constrangedor para a Veja a matéria abaixo.
Será que tem resposta para isso ou vai insistir na fantasia, como na do
juiz que favorece à acusação, mas que absolve os acusados no mesmo
processo?”. Na sequência, publicou o link para um texto tentando
desmentir uma das informações da reportagem.
De acordo com o texto
citado pelo ministro da Justiça em seu Twitter, os contatos telefônicos
de Moro com pedidos e cobranças ao MPF foram devidamente registrados na
época dentro dos processos e cita como exemplo um despacho do ex-juiz
no curso de um habeas corpus impetrado pela Odebrecht contra o envio de
dados, incluindo extratos bancários, da Justiça Suíça à Lava Jato:
“Intime-se o MPF, com urgência e por telefone (já que há acusados
presos)”.
O pedido para fazer o telefonema registrado nos autos é
um ato burocrático e comum nos processos judiciais, inclusive os da Lava
Jato — e não tem absolutamente nada a ver com a flagrante
irregularidade denunciada pela por VEJA. Na reportagem, a revista cita
um chat do Telegram entre Moro e Dallagnol sobre o mesmo assunto (habeas
corpus Odebrecht) que começa no dia 2 de fevereiro e se estende até o
dia 5. É uma conversa privada entre um juiz e um procurador tratando de
detalhes de um processo.
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