O procurador José Alfredo de Paula Silva, coordenador do grupo de trabalho da Operação Lava Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR), pediu demissão do cargo.
A informação, antecipada pelo jornal O Globo, foi confirmada a EXAME pela equipe de comunicação do órgão. Silva pediu exoneração na última sexta-feira (12) alegando “motivos pessoais”.
Segundo O Globo, no entanto, ele estava insatisfeito com o
ritmo lento das investigações da Operação, emperradas devido ao excesso
de centralização do gabinete de Raquel Dodge, e com a tentativa dela de se reconduzir fora da lista tríplice.
Duas importantes delações estavam em banho-maria na PGR: a do delator da Operação Carne Fraca, Daniel Gonçalves, e da operadora do PT na Bahia, Dalva Sele Paiva. Ambas, apesar de homologadas, não tiveram desdobramentos em operações, informou a VEJA recentemente.
A saída de Silva amplia o desgaste interno de Dodge, uma vez que ele ocupava um dos cargos mais importantes da sua gestão.
O procurador era responsável pelas articulações das investigações com políticos com foro privilegiado na Lava Jato e fazia a ponte da PGR com as forças-tarefas da operação nos estados. Delação
premiada, oferecimentos de denúncias, pedidos de operações policiais e
de quebras de sigilo estavam no escopo de suas funções dentro da PGR.
Reunião
Nesta terça-feira (16), Dodge receberá integrantes
da força-tarefa da Lava Jato, sediada em Curitiba, para avaliar os
recentes vazamentos de mensagens entre procuradores da operação com o
então juiz Sergio Moro, divulgadas pelo site The Intercept.
As
reportagens põem em xeque a conduta dos envolvidos, ao revelar supostos
diálogos travados entre Deltan Dallagnol e outros integrantes do MPF e
do próprio ex-juiz federal.
Os citados afirmam não
reconhecerem a autenticidade das mensagens, negam irregularidades e se
dizem vítimas de crime de hackers que tentam manchar os feitos e anular
processos ligados à operação.
Neste mês, a PGR já se
manifestou contra pedidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que
aponta suspeição do então juiz Sergio Moro na condução de ações penais
contra si.
A PGR já afirmou que houve atuação
criminosa contra integrantes do Ministério Público Federal, no ofício
enviado em junho à Polícia Federal pedindo uma investigação sobre os
motivos e eventuais contratantes do “ataque cibernético sistemático”.
Alguns
procuradores, no entanto, entendem que falta fazer uma defesa pública
mais enfática dos integrantes da Força-Tarefa. A expectativa de
procuradores é que, depois da reunião, a PGR possa apresentar uma
posição da instituição.
A informação na
Procuradoria-Geral da República é que a reunião já estava sendo
articulada há semanas e não se deve a nenhum conteúdo específico
divulgado na imprensa recentemente.
Órgão do MPF critica Lava Jato
A
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFCD), do Ministério
Público Federal, divulgou nesta segunda-feira (15) uma nota pública com
duras críticas a procuradores da Lava Jato.
A instituição demonstra preocupação
com a eventual ocorrência de abusos a direitos legais e humanos em nome
do combate à corrupção, após as revelações do Intercept. Essa foi a
primeira vez que um órgão ligado ao MPF se pronuncia publicamente sobre
os vazamentos.
“A revelação pela imprensa de diálogos
mantidos entre agentes públicos do sistema de Justiça no contexto da
Operação Lava-Jato reforça a necessidade de compreensão das diversas
dimensões dos direitos humanos e de promoção conjunta do enfrentamento à
corrupção, do devido processo legal, do direito à informação e da
liberdade de imprensa”, afirma a PFDC. Leia a nota na íntegra.
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